Os novos surtos de Covid-19 que têm sido registrados na China, principalmente motivados pela variante delta, colocam mais um sinal de alerta sobre os mercados. Mais medidas de restrição estão colocando milhares de pessoas em isolamento social, o que poderia provocar impactos em diversas frentes da economia chinesa.

 

“Em 2020, tivemos um lockdown bastante severo, desta vez não tão severo, mas com medidas que a China sabe tomar, toma de uma vez e tenta resolver tudo rapidamente. E isso traz impactos de curto e médio prazo. No ano passado, um impacto de curto prazo foi o menor consumo de alimentos, as pessoas comem menos fora de casa”, explica Eduardo Vanin, analista de mercado da Agrinvest Commodities.

 

Um exemplo disso é aceleração dos abates de suínos, com os produtores tentando agilizar suas etapas e temendo problemas logísticos mais a frente, o que já pressiona ainda mais os preços da carne suína no país. E assim, o peso chega também para o farelo de soja, já que as margens do suinocultores estão ruins, bem como as das processadoras de soja.

 

Já no médio prazo, o alerta de Vanin é para o quadro inflacionário. As vendas de farelo de soja saltaram de menos de 100 mil toneladas diárias nos últimos dias para mais de 500 mil em todos estes primeiros cinco dias de agosto.

 

“Da mesma forma, as indústrias de ração, com medo de ficar sem produto, estão comprando mais para compor estoques de farelo. Então, há impactos ruins, mas bons também. O preço do farelo se firma e com as indústrias na China vendendo mais farelo terão que  repor isso com soja importada, tanto para 2021, como para 2022”, explica o analista.

 

BRASIL X EUA

A China ainda concentra suas compras no mercado brasileiro, que se mostra mais competitivo, pelo menos, até outubro, quando aí sim começa a olhar para a soja norte-americana. Somente nesta semana a nação asiática teria comprado 12 navios de produto nacional com embarque até setembro, e voltado a comprar nos EUA para embarques a partir de outubro.

 

E para estar adequadamente abastecida, até o final de janeiro 2022 a China ainda precisa comprar 25 milhões de toneladas.

 

COMPORTAMENTO DOS MERCADOS

Ainda de acordo com o analista, as commodities terão comportamentos diferentes diante das notícias que começam a chegar dos países onde novos surtos estão sendo registrados. E o principal diferencial deste ano é uma parcela grande da população mundial já vacinada com a primeira dose contra a Covid-19.

 

“E pensando em demanda por soja, não vejo que vá cair. Mas temos que separar as commodities”, afirma Vanin. E para que as margens de esmagamento de soja da China melhorem de forma mais consistente, seria importante que as margens para os suinocultores também melhorem.

 

INFLAÇÃO

“O que nos provou o Covid, além da questão social e da doença, muito trágica, economicamente é inflacionário. Ele traz um impacto inflacionário muito grande e isso me parece, com essas novas variantes, que esse processo ainda tem um tempo para ser resolvido”, explica o analista da Agrinvest.

Parte disso se dá pelos elevados custos logísticos diante de uma forte redução na oferta de navios e containeres, começando pela China. Antes da pandemia, a tarifa de um container de 40 pés da China para a costa oeste dos EUA era de US$ 2 mil, hoje cotada a US$ 20 mil.

 

“E esse custo está sendo repassado para o consumidor final. Então, não é a toa que os EUA esteja passando por essa inflação e parece que não veio e vai passar tão rápido quanto o FED (o banco central americano) diz que vai”, afirma Vanin.

 

Há ainda o cenário dos semicondutores, também como reflexo do Covid, ajudando neste processo inflacionário, bem como se observa na produção de madeira, entre outros insumos, que compromete a capacidade produtiva global.

 

“Temos uma redução de produção de insumos, encarecimento dos transportes e tudo isso está sendo repassado para o consumidor. Ou seja, processo inflacionário”, diz. E assim, sua análise aponta ainda para a continuidade da volatilidade e da sensibilidade dos mercados todos a estas novas informações que estão por vir.

Fonte: Notícias Agrícolas