A volatilidade mais intensa e os patamares mais baixos em que opera o dólar frente ao real passaram a chamar mais atenção dos produtores brasileiros de soja nas últimas semanas, mesmo já estando bem vendidos. Com quase 60% da safra 2020/21 já comercializada e os negócios mais limitados neste momento – em partes motivados pelas incertezas climáticas – o sojicultor agora se questiona como essa baixa da moeda americana pesa sobre a formação dos preços da oleaginosa daqui em diante.

 

“Tudo muda agora,muda muito. Mas isso não quer dizer que os preços vêm para níveis ruins, longe disso”, explica Carlos Cogo, sócio-diretor da consultoria Cogo Inteligência em Agronegócio. “Mesmo com essas baixas do dólar, ainda estamos falando em preços muito altos. Com um câmbio mais baixo, estaríamos falando em algo entre R$ 130,00 e R$ 140,00 no sul e entre R$ 110,00 e R$ 130,00 no Cerrado”, completa, referindo-se à soja da nova temporada.

 

Cogo explica que mesmo que a moeda americana venha a testar níveis abaixo dos R$ 5,00, chegando a – na pior das hipóteses – a algo perto de R$ 4,50 – ainda assim, os preços da soja têm respaldo para se sustentarem em patamares elevados e muito favoráveis aos produtores brasileiros.

 

“Serão níveis ainda acima da média dos últimos anos. Além disso, o Brasil segue muito competitivo e sobre isso, nada muda, porque a relação custo x preço continua muito favorável”, explica o consultor.

 

Mais do que isso, Cogo reafirma também a força dos fundamentos, com estoques de passagem que “praticamente não existem” no Brasil, oferta ajustada no mundo todo, com a necessidade que o mercado internacional ainda terá de precificar as perdas que se derem como certas não só no Brasil, mas também no Paraguai e na Argentina. “Fevereiro ainda é uma incógnita para a safra”, diz.

 

Assim, caso a situação se agrave e Chicago teste preços mais altos para os futuros da soja, esses ganhos poderiam vir a ajudar a equilibrar a pressão que poderia continuar a ser exercida pelo dólar. “E o câmbio também é uma incógnita”, complementa Carlos Cogo.

 

Nesta segunda-feira (14), o Boletim Focus trouxe em sua projeção o dólar encerrando 2020 em R$ 5,20, contra R$ 5,22 da semana anterior.  Para o ano que vem, a estimativa mudou de R$ 5,10 para R$ 5,03. Já para 2022, a projeção dos economistas pesquisados é de R$ 4,50, contra R$ 4,94 do reporte anterior.

 

O impacto desse recuo pode ser sentido e observado não só para a soja da nova safra, como também no pouco de oferta disponível. As perdas nos principais estados produtores de 1º a 11 de dezembro ficaram entre 6,25% e 16,99%.

 

Em Não-Me-Toque/RS, baixa de R$ 7% com a saca passando de R$ 142,00 para R$ 132,00; perda de 9,18% em Cascavel/PR para R$ 133,50; de 6,45% em Rio do Sul/SC para R$ 145,00; 12,12% em Tangará da Serra/MT para R$ 145,00; de 14,58% em Sorriso/MT para R$ 123,00; de 10% em São Gabriel do Oeste/MS para R$ 135,00; de 16,99% em Rio Verde/GO para R$ 127,00 e de 6,25% para R$ 150,00 por saca em Luís Eduardo Magalhães/BA.

 

No mesmo intervalo, as referências para a soja da safra nova, fevereiro/2021, nos portos também cederam 8,78% em Paranaguá e 8,90% em Rio Grande. Ainda assim, estando em R$ 135,00 e R$ 133,00 por saca, respectivamente.

 

Complementando o cenário ainda de suporte para as cotações brasileiras há também os prêmios, os quais seguem positivos mesmo diante da possibilidade de uma safra recorde no Brasil, apesar das perdas que já começam a ser registradas em diversas partes do país.

 

Entre 1º e 11 de dezembro, os prêmios da soja também subiram consideravelmente no mercado nacional. Utilizando o porto de Paranaguá como referência, as posições subiram 7,69% no março – de 65 para 70 cents de dólar por bushel sobre Chicago – 12,07% no abril – de 58 para 65 cents – e 16,67% no abril/2021 – de 60 para 70 centavos de dólar.

Fonte: Notícias Agrícolas