Está oficialmente iniciada a safra 2020/21 de soja do Brasil. Nesta quinta-feira, 10 de setembro, se encerra o vazio sanitário no Paraná e os produtores, na teoria, estariam prontos para começar o plantio da safra 2020/21 de soja. No entanto, as perspectivas dos sojicultores já foram melhores. As chuvas estão atrasadas e as previsões não indicam condições melhores para os próximos dias e há uma preocupação no estado, que vem de uma seca histórica e registrando perdas na safra 2019/20, principalmente no milho.

 

“O que está deixando o produtor muito apreensivo aqui no Paraná tem sido a falta de chuvas. Vimos de uma estiagem histórica, que trouxe prejuízo para o milho segunda safra aqui no estado”, explica o presidente da Aprosoja PR, Márcio Bonesi. “Colhemos já 90% da área de milho do estado, faltam cerca de 10% na região norte do estado, coisa que vamos tirar o milho e já começar o plantio da soja em cima se as chuvas vierem. Mas as previsões de chuvas ainda são muito pequenas para os dias 20 a 21 e muitas áreas ainda precisam ser manejadas”, completa.

 

O manejo, porém, também fica comprometido pelo tempo seco e a falta de umidade no solo, segundo Bonesi. A umidade do ar está muito baixa, as temperaturas estão altas e venta muito. “Assim, o produtor não pode e não está realizando aplicações de herbicidas porque não há condições climáticas”, diz o presidente da Aprosoja PR.

 

PREVISÃO DO TEMPO

Os mapas mais recentes mostram que as chuvas continuam restritas no Sul do Brasil nos próximos dias e sem condições de avançarem até o Paraná. Volumes mais expressivos são esperados apenas para o final de setembro, a partir do dia 26, de acordo com informações do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia). No entanto, suas previsões para o trimestre agosto-outubro indicam chuvas acima da média e temperaturas em linha.

 

“Para a Região Sul, as previsões climáticas indicam que as chuvas serão acima da média no Paraná, litoral norte de Santa Catarina e sudeste do Rio Grande Sul (…) As temperaturas médias previstas para o trimestre de agosto a outubro serão próximas à climatologia e ligeiramente abaixo da média em grande parte da Região Sul”, mostra o Boletim Agrometeorológico do Inmet.

 

Assim, as chuvas demoram a chegar, mas chegam ao Paraná, de acordo com os especialistas. Os mapas de excesso e déficit hídrico do Inmet mostram condições melhores para o estado nos meses de setembro e outubro.

 

Para o agrometeorologista João Castro, da Climatempo, chuvas de bons volumes já são esperadas a partir de 18 de setembro no oeste paranaense, e que podem se estender até o dia 20. No entanto, as esperadas chuvas plantadeiras são esperadas para serem registradas apenas a partir do dia 26.

 

“Não podemos fazer esse plantio sem vir a chuva. Se no dia 20 essas previsões se confirmarem em bons volumes – acima de 30 a 40 mm – o produtor, uns dias antes, vai começar o plantio no pó nas áreas que já foram manejadas. E agora depende do clima, inclusive para sabermos se haverá um atraso. O produtor vai ficar muito atento às previsões e ele tem mesmo que fazer isso”, afirma Bonesi.

 

Nas regiões oeste e noroeste do Paraná, fossem outras condições e previsões de chuvas, além de umidade no solo, a soja já estaria sendo plantada a partir desta quinta-feira. E caso as previsões próximas mostrem chuvas consistentes, o produtor começa a plantar. “Quanto mais atrasa o plantio da soja, e não sabemos quanto vai atrasar ainda, mais exposto se fica às geadas. E quando você avança março plantando milho, já se diminui o potencial produtivo do milho. O fator chuva é determinante”, diz.

 

CLIMA X COMERCIALIZAÇÃO

A safra 2020/21 de soja do Brasil chega à época de plantio com quase 60% já comercializado. A demanda forte, a vantagem cambial e um cenário promissor para a renda do produtor brasileiro estimularam as vendas antecipadas em um ritmo recorde para esta temporada e há algumas incertezas que ainda preocupam o produtor brasileiro.

 

“Quem trabalha com mercado tem que estar sempre preparado para o imponderável”, explica o consultor em agronegócios Ênio Fernandes, da Terra Agronegócios. “Não temos nenhum cenário catastrófico para o Brasil daqui em diante e as perspectivas são positivas”, completa.

 

No Paraná, os produtores também têm boas perspectivas de mercado, com bons preços garantidos – inclusive na safra anterior, apesar das perdas em algumas regiões. Assim, para a safra paranaense 2020/21, a perspectiva da Aprosoja é de que já haja entre 43% e 45% comprometida com a comercialização. Da safra 2021/22 já são cerca de 4% a 5% comercializados.

 

“Com isso, o produtor pôde fazer trocas. Fez contratos de soja amarrando com os insumos. Tivemos uma alta nos custos dos fertilizantes, dos insumos, mas no momento em que faz a troca consegue um valor interessante. O produtor investiu mais em fertilizantes, principalmente corretivos de solo, e há as expectativas de uma safra maior”, acredita Bonesi.

 

A projeção é de que as 20 milhões de toneladas de soja produzidas na temporada 2019/20 sejam batidas neste ano, ainda de acordo com o presidente. O Deral (Departamento de Economia Rural) da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento, a produção paranaense da oleaginosa é estimada em 20,378 milhões de toneladas, contra 20,665 milhões da temporada anterior.

 

A área semeada com a oleaginosa deverá ter pouca varição de um ano para o outro, passando de 5,465 para 5,530 milhões de hectares.

 

“O percentual dessa safra comercializada gera no produtor mais uma preocupação. Nunca tivemos um número tão elevado de contratos futuros. O produtor aproveitou os preços, fez trocas com insumos e fertilizantes, mas também fez mais um compromisso”, conclui Márcio Bonesi.

Fonte: Notícias Agrícolas