Rússia amplia acesso ao mercado chinês e diversifica exportações agrícolas.

 

A guerra comercial travada desde julho do ano passado entre Pequim e Washington não favoreceu apenas os exportadores de soja do Brasil. Na geopolítica dos alimentos, o agronegócio russo desponta como um dos principais vitoriosos.

 

Tradicional produtor de grãos – sobretudo de trigo -, a Rússia está diversificando as exportações agrícolas. Depois de incentivar a autossuficiência em aves e suínos, o país começou a exportar carne de frango e se estrutura para embarcar carne suína para a China.

 

“Tudo o que estamos vendo do ponto de vista geopolítico – a guerra comercial entre EUA e China não acaba, mas vai continuar e ficar pior – tem a agricultura russa como beneficiária em 100%”, disse nesta semana o executivo-chefe da fabricante russa de fertilizantes PhosAgro, Andrey Guryev, em entrevista ao jornal “Financial Times”.

 

Mas a abertura às carnes não é o único benefício de Moscou. Graças às relações amistosas entre o presidente Vladimir Putin e Pequim, os grãos russos vêm ganhando espaço no país asiático. Ontem, a Administração Geral das Alfândegas da China aprovou a importação de trigo da região de Kurgan, na Rússia. Dessa forma, a Rússia fica mais próxima do objetivo de aumentar drasticamente suas vendas de grãos. Paralelamente, a alfândega chinesa aprovou a importação de soja russa.

 

A Rússia, que já é o maior exportador de trigo do mundo, planeja investir bilhões de dólares em infraestrutura e logística de grãos. De acordo com o executivo da PhosAgro, a rentabilidade da agricultura do país vem crescendo, o que tende a estimular investimentos. “É uma máquina de ganhar dinheiro”, disse.

 

Em meio ao ambiente favorável, a Rússia planeja ampliar as exportações de grãos para pelo menos 55,9 milhões de toneladas até 2035. Neste ano, o país deve exportar a todos os destinos 41,9 milhões de toneladas de grãos – 31,4 milhões de toneladas de trigo -, conforme estimativa da consultoria russa SovEcon.

 

No mercado de trigo, a força russa é sentida negativamente pelos americanos – o cereal do Estados Unidos ficou menos competitivo. Ontem, em leilão de importações, a estatal egípcia Gasc adquiriu 300 mil toneladas de trigo, sendo 240 mil toneladas da Rússia e 40 mil da França.

 

Nesse cenário, as cotações do trigo nas bolsas americanas caem. Nos últimos 12 meses, os contratos futuros de segunda posição de entrega recuaram 8,5% na bolsa de Chicago e 22,5% na bolsa de Kansas, de acordo com levantamento do Valor Data.

 

Ontem, porém, o trigo americano foi sustentado por uma rara notícia positiva – o acordo comercial entre EUA e Japão, que pode estimular as vendas do cereal. Sinais de que a colheita canadense está mais lenta que o normal também ajudou a impulsionar os preços. Na bolsa de Chicago, os contratos com entrega para março de 2020 subiram 6,5 centavos de dólar, negociados a US$ 4,9025 por bushel.

 

Fonte: Valor