O mau humor dos mercados americanos contamina o Ibovespa nesta quarta-feira (07/08) após o acirramento da disputa comercial entre Estados Unidos e China e comentários provocativos do presidente americano, Donald Trump. Perto das 14 horas, o índice recuava 0,51%, aos 101.599 pontos e um giro financeiro de R$ 8,3 bilhões. Mais cedo, a queda superou 1%.

Nem mesmo a aprovação da reforma da Previdência em segundo turno ou a onda de cortes de juros no exterior foi capaz de sustentar o Ibovespa. Nesta tarde, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), iniciou a sessão em que serão analisados oito pontos apresentados pelos partidos sobre a proposta.

A principal preocupação dos investidores é que isso afete o impacto fiscal da proposta, atualmente avaliado em R$ 933,5 bilhões em dez anos e, de acordo com analistas ouvidos pelo Valor, são as notícias sobre as mudanças previdenciárias que poderão determinar se o Ibovespa cairá mais ou terá algum fôlego ao longo da tarde.

Duas notícias vindas do exterior influenciam na deterioração do clima de negócios e contaminam a bolsa brasileira. A primeira delas é o fato de que a China colocou a referência diária para o yuan no menor nível desde 2008, mas evitando, outra vez, colocá-la além da linha simbólica de 7 por dólar, como aconteceu na segunda-feira. A percepção é de que o banco central da China não deixará que a moeda ultrapasse essa marca, a menos que haja novas ameaças vindas da América, mas segue retaliando as ações dos EUA de alguma maneira. Com isso, a possibilidade de que a guerra comercial se transforme em uma disputa cambial ainda ronda os mercados globais.

Além disso, em mais um de suas mensagens no Twitter, o presidente Donald Trump conseguiu abalar os mercados ao redor do mundo. Ele escreveu na rede social que o Federal Reserve (Fed, banco central americano) deve cortar os juros de forma “mais rápida e maior” para que os EUA consigam competir com outros países, dizendo que o banco central americano é “orgulhoso demais”.

A situação acentuou a procura por proteção no mundo todo, penalizando mercados emergentes e também pressionando os preços das commodities. Durante a manhã, o minério de ferro chegou a recuar mais de 4%, enquanto o petróleo também tinha recuo expressivo. Os papéis de Petrobras (-2,25% ON e -2,86% PN) e Vale ON (-1,84%) contribuem para puxar o Ibovespa para baixo.

As ações das varejistas também são destaque negativo na bolsa, reflexo do crescimento de 0,1% nas vendas no varejo registradas no mês de junho. Assim, em baixa, apareciam B2W Digital ON (-4,88%), Lojas Americanas PN (-3,38%), Lojas Renner ON (-1,45%), Magazine Luiza ON (-2,35%) e Natura (-2,81%).

Entre os poucos papéis que operam no campo positivo está Raia Drogasil ON (8,44%), que informou ontem avanço no lucro líquido.

 

Câmbio

A piora na percepção de que a economia global pode estar caminhando para uma recessão trouxe uma nova onda de cautela neste pregão, levando os investidores a deixarem ativos de risco de todo tipo de classe. Como resultado, o real voltou a se desvalorizar após encerrar com apreciação marginal um dia antes.

Por volta das 14 horas, a moeda americana avançava 0,67%, a R$ 3,9814. O movimento espelha o do exterior, onde o dólar subia frente ao rand sul-africano e em relação ao rublo russo.

No exterior, esse sinal de alerta se concretizou na queda dos rendimentos dos títulos soberanos de países desenvolvidos, que voltaram a renovar mínimas históricas. O rendimento do bund de 10 anos da Alemanha ficou em -0,610%, enquanto o título de mesma maturidade do Reino Unido tocou 0,432%. Nos Estados Unidos, o juro da T-note de 10 anos chegou a operar a 1,613%. No mesmo momento, a T-note de 2 anos operava a 1,541%.

 

Juros

As preocupações com a fraco crescimento da economia global conduzem à queda das taxas de juros em todo o mundo. E o Brasil não sai ileso deste movimento. Na B3, os juros futuros caem desde o começo do pregão num movimento que denota as apostas reforçadas na queda adicional da Selic.

O que torna o movimento ainda mais notório é o contraste com o desempenho de outros ativos locais, o que indica uma posição bastante cautelosa do investidor com o risco de recessão global. Hoje, o DI para janeiro de 2020 passa de 5,53% para 5,51% e o DI para janeiro de 2021 cai de 5,49% para 5,44%, a despeito da alta do dólar e da desvalorização do Ibovespa.

De acordo com analistas, as apostas numa flexibilização adicional da Selic ainda podem ganhar tração nos próximos meses conforme o cenário de aprovação de reformas, inflação baixa e atividade fraca em todo o mundo vai se confirmando. E não faltam motivos hoje para reforçar a expectativa de novos estímulos monetários no país.

Desta vez, os novos sinais de fraqueza econômica vieram da área de consumo, com os dados de varejo do IBGE.

Para além do quadro local, o espaço para corte de juros ficou ainda mais evidente com os esforços de bancos centrais de outros emergentes para conter a fraqueza econômica que abala o mundo. Tudo isso ganha tons ainda mais dramáticos pelos temores com o impacto contracionista da guerra comercial entre China e Estados Unidos.

Vale dizer que a configuração do mercado fica diferente de segunda-feira que foi um dia clássico de aversão ao risco com as notícias sobre a guerra comercial. Naquela ocasião, o prêmio de risco aumentou em todos os ativos, incluindo bolsa, câmbio e juros.

 

Fonte: Valor