Veto ao paraquate no país gera ‘corrida’ no mercado
Com a efetiva proibição do herbicida paraquate no Brasil, as empresas do ramo de agroquímicos se organizam para preencher uma importante lacuna no mercado. Em 2019, o produto foi utilizado em 17 milhões de hectares, tratados com 34 milhões de litros, conforme estimativas.
Desse total, o pesquisador Fernando Adegas, da Embrapa Soja, estima que em torno de 65% eram destinados à dessecação pré-colheita da soja; 2% ao combate de ervas daninhas em culturas perenes; e 33% ao manejo pré-plantio da oleaginosa. E, se de um lado o diquat – também fabricado pela suíça Syngenta, dominante no mercado de paraquate – resolve bem o primeiro problema, não há substitutos com custo-benefício relativamente equiparável para resolver a questão do preparo do solo para plantio da soja.
Assim, Adegas afirma que a tendência é que se desenvolva um manejo mais complexo nessa frente, que dê conta de controlar ervas daninhas resistentes como o paraquate. No centro da estratégia, que deve ser turbinada por outros produtos, promete estar o glufosinato de amônio. Três vezes mais caro que o paraquate no tratamento por hectare, ele é considerado eficiente no manejo de plantas como buva e capim amargoso – e, como não tem mais patente, pode ser explorado por empresas de genéricos.
De olho no novo cenário, a indiana UPL é uma das companhias que acreditam que sua receita com o glufosinato de amônio – que já representa 5% dos US$ 5 bilhões que fatura globalmente – poderá crescer. “O difícil é dizer quanto”, segundo Marcelo Zanchi, diretor de marketing da UPL Brasil, “porque com a saída do paraquate do mercado a expectativa é que haja uma rotação maior de princípios ativos no campo, até por questões de manejo da resistência”. Até por isso a UPL planeja lançar quatro produtos com misturas simples e tríplices de glufosinato até 2025, sendo que a primeira já deve chegar ao mercado em 2020/21.
A fim de melhor atender à demanda brasileira, a empresa já considera também instalar fábricas do produto no país. Hoje, a maioria está na Índia e há uma nos EUA. Além do glufosinato, a UPL também conta com outras moléculas substitutas do paraquate: o cletodim, do qual detém cerca de 50% do mercado, e o triclopir.
Para a alemã Basf, líder em vendas de glufosinato de amônio no Brasil, seu segundo herbicida em geração de receita no país, a expectativa também é de crescimento na comercialização, embora a múlti não divulgue números por questões estratégicas.
No sentido da rotação de moléculas, Ademar De Geroni Junior, vice-presidente de Marketing Estratégico da Basf para América Latina, afirma que um dos herbicidas da empresa à base do glufosinato de amônio, registrado sob a marca Finale, tem compatibilidade maior com outros produtos que o paraquate, além de menor restrição na tecnologia de aplicação, sendo uma aposta relevante em misturas para melhor controle de ervas resistentes.
Ao Valor, a brasileira Ourofino Agrociência informou que tem pleitos junto aos órgãos reguladores para registrar produtos substitutos do paraquate e que trabalha com outras opções além do glufosinato de amônio.
No campo e na indústria, a angústia é sobre o que fazer com os estoques de paraquate. A determinação da Anvisa é que os fabricantes recolham e deem destinação correta aos produtos em até 30 dias. Mas a Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil) espera que o herbicida ainda possa ser usado na safra 2020/21, com autorização prévia. A decisão caberá à Anvisa, que, pressionada, poderá discutir o tema ainda durante esta semana.
Fonte: Valor