Para manter o tradicional cardápio de arroz com feijão, base da alimentação nacional, os moradores da região Sul tiveram que desembolsar mais do que o restante dos brasileiros para levar para seus pratos o primeiro ingrediente durante este período de pandemia. Na região, o preço do produto teve alta de 8,52%, enquanto no Norte o valor do arroz recuou 3,07%. Atrás de Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, foram nos bolsos dos nordestinos para quem os produtos mais pesaram nas contas no final do mês. Lá, o avanço do arroz foi de 7,04%. No Sudeste, a variação foi de 4,55%; e no Centro-Oeste, de 0,56%.

 

Os dados fazem parte de levantamento realizado pela InfoPrice, empresa de tecnologia e inteligência de negócios focada em pricing do varejo físico, que levou em consideração o comportamento dos preços no período de 10 de fevereiro a 04 de maio.

 

“Nosso objetivo era entender o quanto a pandemia estaria ou não impactando os preços dos principais produtos da cesta básica da população. A Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou pandemia do novo coronavírus em 11 de março, mas um pouco antes disso, tivemos o Carnaval – cujas festividades ocorreram de 21 a 25 de fevereiro. Tendo estas datas no radar, expandimos a data de pesquisa para um período ligeiramente anterior, e começamos a análise dos dados a partir do décimo dia do segundo mês do ano, para garantir que não haveria interferência de altas sazonais motivadas pela celebração. Com esta delimitação, a avaliação sobre a interferência da pandemia nestes preços é mais assertiva”, explica Rodrigo Diana, cientista de dados da InfoPrice.

 

Arroz, feijão, leite, massas, enlatados e carnes bovinas, bases do consumo doméstico das famílias, foram os itens que tiveram seus preços analisados pela InfoPrice. Produtos de limpeza e álcool gel, pelo aumento da procura justamente por conta da recomendação de maior asseio das pessoas para evitar a contaminação da Covid-19, também foram objetos deste levantamento, uma vez que o avanço da demanda costuma interferir no valor dos produtos.

 

Dupla dinâmica

O preço do feijão também não facilitou a vida dos consumidores no Sul, região na qual a alta no valor do grão foi de 9,90%. Para os moradores do Sudeste e Nordeste, contudo, a volatilidade observada é ainda mais acentuada: saltou 18,61% no Sudeste, com variação similar no Nordeste (18,42%).

 

O vilão

Os moradores do Sul também enfrentaram forte oscilação no comportamento do preço do leite, que avançou 15,50%. Foi a maior variação observada em todas as regiões do País. “Nossa ferramenta apenas analisa o comportamento de preços, entender os motivos das altas requer um estudo mais aprofundado de cada categoria. Entretanto, nosso relacionamento com os clientes é muito próximo, e nessa troca de informações é possível identificar alguns fatores que influenciam nestas oscilações. No Sul, por exemplo, sabemos que houve uma pressão por parte dos produtores para elevar o valor do leite. Há, inclusive, diversos relatos de varejistas indicando em suas gôndolas que o preço havia subido porque os produtores tinham elevado muito o valor do produto”, explica Paulo Garcia, CEO da InfoPrice.

 

De acordo com dados divulgados pelo Conseleite (associação civil que reúne representantes de produtores rurais de leite do Estado e de indústrias de laticínios que processam a matéria-prima no Paraná), no final de abril, a recomposição de preço na entressafra era um movimento esperado em função da queda na lactação e do impacto da seca em mais de 300 municípios gaúchos, mas também reflete o aquecimento do consumo nos primeiros dez dias do mês devido à formação de estoques pelas famílias no início da pandemia.

 

Para efeitos comparativos, a oscilação no valor do leite foi de 12,01% no Norte; 9,26% no Sudeste; 6,77% no Centro-Oeste, e de 2,31% no Nordeste.

 

Contraponto

Se por um lado o leite prejudicou o orçamento, por outro, a carne bovina foi o único produto que apresentou recuo em todas as praças pesquisadas. E foi justamente no Sul onde se registrou uma das maiores contrações no preço do produto: 10,66%. Com menor intensidade, Nordeste (-3,03%), Centro-Oeste (-2,66%) e Sudeste (-1,95%) também seguiram o movimento de baixa.

 

Outros produtos

Os enlatados deram um alívio para os consumidores no Sul na hora de fechar o orçamento. Os produtos registraram recuo de 1,12%. Ainda assim, foi a menor queda observada entre as localidades pesquisadas. Sudeste (-2,05%), Centro-Oeste (-3,29%) e Norte (-6,24%) indicam retração nos valores desta categoria. O Nordeste é a única região em que se observa alta no preço dos enlatados: 1,69%.

 

As massas também contribuíram para uma folga nas contas dos consumidores sulistas: -2,35%. Variações negativas foram observadas ainda no Norte (-1,62%) e no Centro-Oeste (-4,50%). Sudeste (0,10%) e Nordeste (3,31%) registraram alta.

Fonte: Agrolink