Retirada da tarifa sobre importação de grãos divide o agro
O Ministério da Agricultura confirmou nesta semana, que a Secretaria de Política Agrícola estuda suspender a Tarifa Externa Comum (TEC) cobrada sobre a importação de arroz, soja e milho de países de fora do Mercosul.
Em nota, a pasta explica que a inclusão temporária desses grãos na lista de exceção seria uma forma de equilibrar o mercado doméstico e impedir o aumento de preços de produtos da cesta básico. Como não há sinais de desabastecimento que gerem necessidade de importação desses produtos, caso seja adotada, a medida teria caráter apenas preventivo.
Apesar de o Ministério da Agricultura ter dito, em nota, que a medida conta com apoio do setor produtivo, o que se vê é uma divisão. De um lado, associações de produtores de grãos defendem que a medida não solucionará os problemas de abastecimento da indústria de carnes.
“A agroindústria e os consumidores precisam se preparar e comprar esse produto antecipado. Se for fazer esse tipo de medida, ano que vem precisaremos novamente. Vamos viciar a nossa indústria. Já estamos vendendo a soja 2021 e 2022, e cadê os compradores internos que não estão aparecendo no mercado?”, questiona o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil), Bartolomeu Braz.
O vice-presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), Glauber Silveira, afirma que a entidade é a favor do livre mercado, mas defende que importação e exportação devem ter condições iguais. “Não dá para importar dos EUA, por exemplo, e na hora de exportar para lá ter taxação”, diz.
O economista-chefe da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul, Antonio da Luz, diz que o setor arrozeiro ficou extremamente incomodado com a medida cogitada pelo secretário de Política Agrícola, César Halum. “Acreditamos que a ministra Tereza Cristina não estava sabendo desta decisão dele, porque temos conversado com ela e não é esse encaminhamento que o ministério tem dado para o setor”, diz.
Da Luz defende que se Halum quer resolver a questão do desabastecimento, precisa enfrentar os motivos que têm feito produtores diminuírem a área plantada, como os preços baixos em anos anteriores.
Já a indústria de proteína animal defende a isenção das importações e alega que, com as exportações aquecida, não sobram grãos no mercado interno. “Nós temos um custo bem maior no mercado interno. A nossa preocupação é de faltar insumo na propriedade rural”, diz Losivânio de Lorenzi, presidente da Associação Catarinense dos Criadores de Suínos (ACCS).
O presidente da Associação dos Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (Acsurs), Valdecir Folador, afirma que é uma decisão acertada por parte do governo. “Abre possibilidade para que cadeias tenham a opção de buscar o produto fora do Brasil se tiver essa necessidade”, diz.
A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), em nota, afirma que defende o livre mercado, por isso, da mesma forma que não é favorável às restrições para exportação, também acredita ser justo permitir condições equilibradas para a importação dos insumos.
“A possibilidade de importação é fundamental, também, para a manutenção do controle inflacionário, já que os custos elevados de produção fatalmente refletirão no preço dos alimentos ao consumidor final”, declara a ABPA.
Impacto sobre os preços
De acordo com o analista de mercado Ênio Fernandes, da consultoria Terra Agronegócio, a medida não afetará os preços e as exportações dos grãos. “No caso da soja, não temos mais disponível, o montante que resta é mínimo. Soja dos EUA chegaria aqui muito cara. Importar da Argentina e do Uruguai já tem tarifa zero, e com a atual taxa de câmbio, não é tão atraente. Quando a gente olha o mercado de milho, o Brasil já vendeu 70% da segunda safra. Estamos em ajustes. Grande parte do milho do Paraguai e da Argentina também foi vendida. Isso tem outro ponto: a taxa de câmbio inibe as importações, o mesmo para o arroz”, finaliza.
Fonte: Canal Rural