Apesar de não termos paralelo em termos de dados históricos para uma análise que pudesse retratar de forma mais fidedigna os acontecimentos atuais, o presente artigo busca nortear possíveis reflexos econômicos e comerciais sobre o agronegócio em função dos efeitos colaterais da pandemia do Coronavírus (Covid-19).

 

Interessante adiantar ao leitor já nesse início do artigo, que nenhuma das crises analisadas ao longo dos últimos 60 anos resultou em quedas drásticas no consumo de alimentos. Foram observadas retrações tímidas em determinadas crises, mas nada que comprometesse o potencial exportador do Brasil.

 

– Crise do Petróleo de 1973: A crise foi encadeada por motivos econômicos e políticos. Os países que compõem a OPEP (Organização dos Países Produtores de Petróleo) resolveram aumentar o preço de modo significativo e reduzir a oferta da commodity.

 

– Crise do Petróleo em 1979: Com a instalação da República Islâmica do Irã (Revolução Iraniana), a queda na oferta do Petróleo acarretou uma alta drástica nos preços da commodity.

 

– Crise dos países da América Latina: Aconteceu na década de 80 com o forte endividamento dos países latino-americanos ao final de década 60 e meados de 70 em função do acesso ao crédito barato.

 

– Crise do peso mexicano: Aconteceu em 1994 com a forte desvalorização do peso mexicano em relação ao dólar. A crise de confiança fez com que os investidores retirassem seu capital do México.

 

– Crise dos Tigres Asiáticos: Ocorreu em 1997, no bloco dos países emergentes do Sudeste Asiático, que se destacavam por um forte crescimento econômico. Conhecida também como a primeira grande crise do mercado globalizado, os impactos em diversas economias do mundo tomaram forte proporção naquele período.

 

– Atentado as Torres Gêmeas: O atentado de 11 de setembro de 2011 trouxe um impacto financeiro global. Os principais indicadores recuaram e os investidores buscaram o ouro como reserva de valor depois das fortes quedas observadas nas principais bolsas de valores do mundo.

 

– Crise imobiliária dos EUA: A crise mais recente enfrentada pelo mundo (iniciada ao final de 2008), e que ainda estava em processo de recuperação, foi ocasionada após o colapso no sistema financeiro dos Estados Unidos que realizaram um alto volume de empréstimos hipotecários de alto risco.

 

Cruzando os dados do consumo mundial de proteínas (bovina, suína e de aves) ao longo desses últimos 60 anos, não se observa, segundo dados do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), nenhum ano em que o mundo registrasse alguma contração expressiva na quantidade de proteína consumida durante os períodos de crise analisados.

 

Fica nítido, portanto, observar que, mesmo em quadros de recessões econômicas, os dados históricos nos demonstram que o consumo de proteínas, o qual é o grande demandador da produção de grãos (principalmente milho e soja) foram muito pouco afetados.

 

No curto prazo, o quadro da agricultura brasileira parece promissor. Com uma colheita recorde de grãos, os produtores se deparam com preços altos tanto para soja quanto para o milho. A soja chega a alcançar os R$ 100/saca no porto, enquanto os preços do milho chegam a alcançar R$ 50/saca em algumas praças. O aumento da taxa de câmbio favorece, nesse momento, os preços dolarizados (a exemplo da soja) ao mesmo tempo em que favorece as exportações, tanto da oleaginosa quanto do cereal.

 

O setor de grãos ainda não sentiu os efeitos da crise como os demais setores (serviços, indústria e comércio). As exportações seguem firmes, com a taxa de câmbio sendo competitiva para nossas vendas externas. No entanto, os produtores mostram-se preocupados com o possível aumento dos custos dos fertilizantes e com a logística dos insumos e grãos que podem ser prejudicados pelos fechamentos de postos de combustíveis e com a paralisação de fornecedores que proveem essa cadeia de transporte.

 

Nos últimos anos, observamos um grande crescimento do consumo de proteínas, principalmente nos países emergentes, em especial na China. O forte crescimento econômico do país aumentou o poder de renda da população que passou a ter acesso a uma nutrição mais adequada.

 

Sem precedentes na histórica recente, os principais bancos centrais do mundo estão despejando trilhões de dólares na economia para minimizar os impactos econômicos e sociais. O alimento é requisito básico para que a população enfrente esse momento tão delicado que estamos atravessando. O Brasil, em sua plenitude de potência agrícola, tem a missão social de seguir alimentando não apenas sua população doméstica, como também uma importante parcela da população mundial.

Fonte: Zeus Agro por Leonardo Sologuren