Nos últimos dias muito vem se falando da intensa massa de ar polar que vai atingir o centro-sul do país, derrubando as temperaturas, com condições para quebra de recordes de temperaturas negativas, probabilidade de neve e geadas amplas. A massa de ar polar avança também para o sul da região norte causando o fenômeno da friagem. No entanto, não é amplamente mencionado o porquê da chegada do frio mais intenso nesta semana.

 

Em meados do mês de maio foi noticiado que o fenômeno da La-Niña tinha chegado ao seu fim, no entanto, os modelos climáticos vinham apontando para a manutenção das águas mais frias na região do pacífico equatorial. Sendo a La-Niña caracterizada pelo resfriamento das águas nesta região, mas para atingir o patamar de ativação do fenômeno as médias de temperatura devem atingir o limiar de 0.5°C abaixo da média no período. O que vem se confirmando novamente para os próximos meses.

 

A La-Ninã é a fase negativa do fenômeno El-Niño-Oscilação Sul (ENOS). A referência do El-Niño diz respeito às temperaturas da superfície do mar e a Oscilação Sul refere-se à relação entre os níveis de pressão em Tahiti na Polinésia Francesa e Darwin na Austrália. Estas oscilações são conhecidas como Teleconexões dentro das ciências atmosféricas e referem-se a desvios climáticos relacionados entre si a grandes distâncias (normalmente milhares de quilômetros), com impactos regionais ou globais.

 

Um dos efeitos bastante conhecidos em períodos de La-Ninã é a menor frequência de chuvas sobre a região sul do país e a tendência de invernos mais rigorosos, o que vem se confirmando neste inverno de 2021. E aliado a esta condição, também estamos na fase negativa de outra oscilação que favorece a incursão de frio sobre o país. O fenômeno é menos conhecido e menos divulgado, mas seus impactos são amplamente discutidos no meio científico.

 

A Oscilação Antártica (OA) domina o padrão de circulação extratropical – uma área aproximada de um cinturão ao redor do globo na altura do sul do RS e sul da Argentina no hemisfério sul – e estas oscilações da OA têm duração de semanas a meses, e está relacionado com mudanças na posição da corrente de jato, sistemas frontais e ciclones.

 

Na fase negativa da Oscilação Antártica, as correntes de jato – ventos a 10 km de altitude que podem facilmente atingir velocidades superiores aos 200 km/h –  assumem uma configuração com uma maior tendência de sul para norte e esta configuração favorece a incursão mais intensa do ar polar sobre o continente sulamericano com o avanço das frentes frias.  Para esta semana a Oscilação Antártica está na sua fase negativa e intensificando até pelo menos o dia 29 de Julho de acordo com a previsão disponibilizada pela NOAA.

 

Desta forma, a soma de diversos fatores climáticos influenciam os cenários de curto prazo, como é o caso da passagem de uma frente fria e atuação de uma massa de ar polar que tem duração de alguns dias. Além disso, de acordo com a tendência mostrada pelo modelo climático norte americano CFSV2, não há indícios da chegada de uma nova massa de ar polar de forte intensidade após o evento que ocorrerá no decorrer desta semana.

Fonte: Canal Rural