MT: insumos estão 12% mais caros, será que vale esperar para comprar?
Os custos de produção da soja não param de subir em Mato Grosso, acompanhando a escalada do dólar. Isso porque boa parte dos itens de maior peso nessa conta, os insumos, são importados e, portanto, elevam a conta. Dentre eles, os fertilizantes e defensivos são os maiores vilões. Mas será que vale esperar e comprar estes produtos depois? Confira a opinião de produtores e especialistas.
O custo de produção da soja transgênica, em Mato Grosso, atingiu um patamar de R$ 4.405,38 por hectare, 12% mais caro que a mesma época do ano passado, segundo dados do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea). Aliás, os custos apresentam uma alta continua desde janeiro de 2020, quando estavam na casa dos R$ 3.990,60 por hectare. Ou seja, de lá pra cá os custos só aumentaram.
“Parte do pacote de custos é dolarizado e os preços subiram, principalmente os fertilizantes e defensivos. A boa notícia é que boa parte dos produtores aproveitou os bons preços da soja para fazer a troca por insumos, então falta pouco para comprar, algo em torno de 20%”, afirma o gestor de Inteligência de Mercado do Imea, Cleiton Jair Gauer.
O que ficou mais caro?
Entre os principais itens para a instalação da lavoura (fertilizantes, defensivos e sementes), os inseticidas, herbicidas e fungicidas, que compõe o pacote para defender as lavouras, foram os que mais encareceram em um ano. Em maio deste ano, o conjunto de defensivos tem um custo de R$ 970,34 por hectare, quase 21% a mais que os R$ 802,04 de maio de 2019.
Na comparação com o abril de 2020 (R$ 956,02), o custo de maio dos defensivos cresceu 1,50%. E, de fato, este é o item que vários produtores ainda estão esperando para adquirir. Na fazenda de Endrigo Dalcin, em Nova Xavantina, boa parte dos insumos para a semeadura da soja, nos 5 mil hectares que possui, já foram comprados, exceto os defensivos.
“Na minha área estou comprado em sementes e fiz uma compra de adubo para pagar dia 30 de junho, a depender do câmbio. Já os defensivos deixarei para julho ou agosto, não comprei nada ainda. Estão muito caros”.
Segundo o Imea, de fato os defensivos encareceram bastante por conta do dólar, mas os produtores ainda têm prazo para fazer as compras sem correr riscos.
“O produtor até tem uma janela um pouco maior para comprar os defensivos, afinal são produtos que na maioria ele usará após a semeadura, com algumas exceções, como o tratamento de sementes, inoculantes etc. Então dá para se organizar e tentar fazer uma compra mais acertada”, afirma Gauer.
Fertilizantes caros e risco de iniciar lavoura sem
O levantamento do Imea mostrou que o custo com fertilizantes subiram 5,75% se comparado com maio de 2019, ou seja, passaram de R$ 854,65 por hectare (maio 2019), para R$ 903,80 no mês passado em Mato Grosso.
Mas em outros estados do país o produto chegou a ficar 30% mais caro, segundo a Associação Brasileira dos Produtores de Sementes de Soja (Abrass).
“Este é um grande problema quando se faz uma lavoura com o dólar acima dos R$ 5 em média, onde o preço do fertilizante subiu cerca de 20% a 30%, o produtor não consegue trabalhar com essa flutuação do dólar. Se fizermos uma lavoura com dólar alto e vendermos com dólar alto é tranquilo, mas se fizermos uma lavoura com dólar alto e vendermos com dólar baixo, isso nos causa uma quebra muito forte na rentabilidade”, diz o presidente da Abrass, Tiago Fonseca.
Para o Imea, este é outro item que o produtor até pode esperar um pouco para comprar, mas corre mais risco de não conseguir receber o produto a tempo.
“O produtor até pode esperar um pouco para comprar os fertilizantes, mas não muito. Pois já começa a descer milho para Rondonópolis e é preciso aproveitar esse frete de retorno. Outra razão é que o produtor não pode se arriscar em perder o prazo para o produto chegar a sua fazenda, depois da semeadura, por exemplo. Ele tem pouco prazo para negociar esse insumo, daí pra frente começa a ficar arriscado. Se ele resolver fazer isso só em agosto, já está arriscando”, afirma Gauer.
O produto Dalcin confirma o receio apontado pelo representante do Imea quanto ao tempo para comprar os insumos faltantes.
“Dá para aguardar um pouco para comprar o que falta, mas conforme o tempo passa vai ficando mais complicado. O fertilizante requer logística e há um limite para essa entrega, se todos deixarem para comprar na última hora, pode dar problema na entrega”, diz.
Por enquanto, pelo menos em Mato Grosso, ainda há fertilizantes disponíveis para a compra, afirma o Imea.
“O que percebemos nos últimos meses é que havia um estoque disponível de fertilizantes, já que no fim do ano o país importou bastante produto. Ou seja, não há problemas no fornecimento deste insumo no momento”, diz Gauer.
Sementes compradas
O forte movimento de antecipação da comercialização da safra de soja 2020/2021, puxado pela valorização do grão, também acelerou a busca por sementes, principal item para formação de uma lavoura. Segundo estimativa da Associação Brasileira de Produtores de Sementes de Soja (Abrass), as compras deste insumo para a safra 2020/2021 estão entre 70% e 80% no momento.
Relação de troca compensa?
Já a relação de troca (RT), que é feita entre o grão e os insumos, parece já não ser das melhores em Mato Grosso. Segundo o Imea, a relação atual ainda é melhor do que nos últimos anos na mesma época, mas aquém dos montantes negociados em meados de janeiro e fevereiro.
Na safra passada, para se ter uma ideia, diferenças de R$ 4 por saca ocorreram entre as RTs. Já para a temporada 2020/2021, a diferença até o momento entre a máxima e a mínima RT foi de apenas R$ 0,90 por saca, mostrando que uma menor oscilação vem ocorrendo e que oportunidades semelhantes àquelas do final de 2019 ainda existem e podem beneficiar quem ainda não comprou o adubo ou quem pensa em aumentar a área com a cultura.
“A relação de troca no começo do ano estava bem melhor. Até fevereiro foi um momento ótimo, mas agora está pior. Mas pode ser que mude ainda, está tudo mudando muito rápido, o dólar estava a R$ 6, caiu para R$ 5, então tudo pode acontecer com esse dólar”, afirma o produtor de Nova Xavantina.
O Imea confirma a perspectiva e diz que o período para fazer troca começa a passar e já não há tantos casos acontecendo, mas se pegar em relação aos anos anteriores o atual ainda está melhor, mas na comparação com dezembro, que foi o melhor período para se fazer trocas, aí a relação de troca atual já não é tão boa.
“Esse é um ano está muito difícil para tomar decisão. O produtor está de olho na ponta para vender a soja, mas também tem que se preocupar em travar os custos. Esse é o ano para o produtor andar bem travado, bem organizado nas contas, comprou o insumo, venda algo para compensar e vai se organizando”, afirma Dalcin.
Fonte: Canal Rural