Irã convoca embaixador do Brasil para explicar apoio aos EUA
Para o agronegócio, a tensão pode trazer problemas para o milho, já que o país árabe é o segundo maior importador do produto brasileiro.
O Ministério das Relações Exteriores do Irã convocou os representantes diplomáticos brasileiros em Teerã a comparecerem à chancelaria para explicar o teor da nota divulgada na sexta-feira, 3. À época, o Itamaraty se manifestou sobre o bombardeio dos Estados Unidos em território iraquiano, que matou o general iraniano Qassem Soleimani e ao menos mais seis pessoas.
Segundo o Itamaraty, na ausência do embaixador Rodrigo Azeredo, que está de férias, a convocação foi atendida pela encarregada de Negócios do Brasil em Teerã, Maria Cristina Lopes. “Informamos que a Encarregada de Negócios do Brasil em Teerã, assim como representantes de países que se manifestaram sobre os acontecimentos em Bagdá, foram convocados pela chancelaria iraniana”, informou a pasta, em nota, sem detalhar que outras nações tiveram seus representantes convocados.
Na semana passada, o governo iraniano já havia convocado o embaixador da Suíça, que representa os interesses dos EUA no Irã, a se explicar sobre as ameaças que o presidente norte-americano, Donald Trump, fez logo após o ataque ao Iraque.
O Itamaraty também não revelou o teor da conversa, afirmando que trata-se de assunto reservado. “A conversa, cujo teor é reservado, e não será comentado pelo Itamaraty, transcorreu com cordialidade, dentro da usual prática diplomática”, acrescentou o Ministério das Relações Exteriores do Brasil.
Como isso afeta o agro?
De acordo com as Estatísticas de Comercio Exterior do Agronegócio Brasileiro (Agrostat), no acumulado de 2019 até novembro, dado mais recente de exportação por país, o Irã foi o segundo maior comprador de milho brasileiro, com 5,1 milhões de toneladas, atrás apenas do Japão. Em 2018, o país foi o maior importador de milho produzido por aqui, com 6,3 milhões de toneladas.
O diretor-geral da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), Sérgio Mendes, afirma que embora o comércio de alimentos esteja livre de sanções, caso haja restrições dos EUA, a transações bancárias de câmbio da moeda iraniana para o dólar exportadores brasileiros podem ter problemas em receber o pagamento referente aos embarques de milho.
O representante da Anec destacou ainda que o Irã é um grande consumidor de milho porque produz carne frango para consumo interno. O Irã também compra soja brasileira, mas não está entre os maiores destinos.
Caso o Brasil tenha de fato mais dificuldade em exportar para o Irã, parte do milho brasileiro pode ser redirecionada a outros destinos no exterior ou ficar no mercado interno. “O que preocupa é o milho. Na medida que milho alterna com a soja [no sistema de exportação brasileiro], e o Irã é um destino tão importante, não teria o que fazer com esse milho. Vai complicar a nossa vida”, avaliou.
O que dizia a nota?
Na nota divulgada na semana passada, o governo brasileiro manifesta seu apoio “à luta contra o flagelo do terrorismo” e afirma estar “pronto a participar de esforços internacionais que contribuam para evitar uma escalada de conflitos neste momento”, não podendo “permanecer indiferente à ameaça [do terrorismo], que afeta inclusive a América do Sul”.
O Itamaraty divulgou sua nota um dia após a ação ordenada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ter matado Qassem Soleimani, principal general iraniano e considerado por muitos analistas como o segundo homem mais poderoso do governo iraniano. O ataque ocorreu nas proximidades do Aeroporto de Bagdá, capital do Iraque.
Fonte: Canal Rural