Especialistas alertam para os cuidados com a semente de soja antes do plantio
Tanto a Embrapa quanto a Abrass recomendam que os produtores não arrisquem o plantio no pó e só tragam as sementes para a fazenda quando forem usá-las, deixando-as bem conservadas nas sementeiras até o momento certo
Foi dada a largada para a safra 2019/2020 de soja no Brasil. Após o fim do vazio sanitário nos principais estados produtores, só falta o clima colaborar para que a semeadura avance. Em Mato Grosso, por exemplo, as chuvas irregulares associadas ao tempo quente geram atraso no plantio da soja. Por isso, especialistas e sementeiros alertam para os cuidados no armazenamento das sementes nas fazendas. A recomendação é para que os agricultores tenham cautela quanto à retirada do insumo nas empresas, para não prejudicar a qualidade da germinação após o cultivo.
Nas sementeiras do município de Campo Verde (MT) o trabalho está bastante intenso. Enquanto o maquinário trata parte das sementes contra pragas e doenças, as empilhadeiras organizam os fardos que serão entregues. A meta por lá é entregar cerca de 950 mil sacas de 40 quilos de sementes nesta temporada.
Mas o atraso do plantio por causa da seca e a ansiedade de muitos agricultores em cumprir a janela para garantir a segunda safra de milho, preocupa o setor. Para a Associação Brasileira dos Produtores de Sementes de Soja (Abrass) até para sementes de alta qualidade é necessário um solo em condições adequadas para germinação.
“Às vezes queremos acelerar o plantio da soja para colher outra cultura, mas o resultado pode ser perdas nas duas safras. Mesmo a semente de alto padrão de qualidade, quando há atraso nas chuvas ou irregularidades, o resultado pode ser a baixa produtividade. Você não pode deixar ela desprotegida das melhores condições do seu solo”, diz Gladir Tomazelli, vice-presidente da entidade.
A recomendação técnica da Embrapa segue o mesmo discurso de cautela da Abrass. Para o analista da entidade, Bruno Souza Lemos, com mestrado em sementes, é preciso aguardar a estabilidade das chuvas para iniciar um plantio seguro e evitar riscos.
“Se plantar essa semente com um grande estresse hídrico e maior temperatura, com toda certeza terão problemas de estande na área. As plantas não irão aguentar, principalmente no sistema onde não há palhada suficiente no solo”, comenta.
Ele destaca que plantar no seco, ou com a falta de chuvas as plantas tendem a ter problemas de germinação, mas se elas conseguirem, podem tombar e gerar muitas falhas de estande.
“Se tiver falta d’água a planta não vai emergir direito e perderá viabilidade. Se tiver algumas condições de chuvas, mas altas temperaturas, ela pode até emergir, virar uma planta, mas não vai aguentar o calor e vai tombar, gerando muitas falhas de estande, prejudicando a produtividade no final da safra”, afirma Lemos.
Comprar a semente sim, mas só buscar na hora de plantar
Claro que os cuidados não ficam restritos ao plantio na hora correta, mas também ao método correto de armazenagem. Para os dois especialistas, como a maioria dos produtores não tem como guardar o insumo da maneira mais adequada, o certo é deixar os grãos na sementeira e só buscar quando for realmente usar.
O ideal é sempre retirar a semente próximo a regularização das chuvas e, consequentemente, do plantio, para garantir uma boa condição de armazenamento. Deixar no barracão, com lona preta, jamais! A partir do momento em que eu coloquei em um ambiente desse, a cada dia que passa eu perco 5 pontos de vigor. Então o melhor é combinar com o sementeiro e retirar na hora de semear”, explica Lemos
A recomendação é levada a sério na propriedade em que trabalha Éder Redivo Junior, em Pontes de Lacerda (MT), sem espaço apropriado para armazenamento, ele afirma que toda a semente comprada para o plantio dos 1.450 hectares, só sai da sementeira após um bom volume de chuvas.
“Eu gosto de plantar quando em uma semana registro a somatória de 100 milímetros, caso contrário vou aguardando até eu ter essa condição de plantar. Custa caro errar nesse momento e ainda mais se tiver que replantar”, afirma Junior.
Atenção a semente de qualidade
Por ano são produzidas em Mato Grosso cerca de 9 milhões de sacas de sementes, segundo estimativa da Associação dos Produtores de Sementes de Mato Grosso (Aprosmat). Só os associados da entidade são responsáveis por algo em torno de 7 milhões de sacas. No entanto, o clima desfavorável na última temporada prejudicou alguns materiais pontuais e causou uma redução de 5% na oferta deste ano. Mas a queda não influenciou na qualidade das que sobraram e a promessa do setor é de uma semente com um vigor e germinação acima de 85%.
“Em Mato Grosso é obrigação garantida que o sementeiro venda apenas sementes acima de 85%, se alguém receber menos do que isso, denuncie na ouvidoria da Aprosmat. Existe um acordo entre os associados da entidade para que coloquem no mercado apenas sementes com boletim de análise acima de 85% de germinação. Os multiplicadores que não tiverem alta performance, não irão participar do mercado”, garante Tomazelli.
Vale ressaltar, entretanto, que apenas 55% da demanda de sementes de Mato Grosso é atendida por lá mesmo, o restante vem de outros estados. O vice-presidente da Abrass recomenda atenção quanto à origem dos materiais que vêm de fora.
“Algumas regiões do Brasil tiveram estiagem na formação da lavoura e excesso de chuvas na colheita, então o agricultor precisa prestar a atenção de onde está comprando a sua semente. Precisa conhecer o fornecedor, observar se há problemas de sementes, pois não foi o Brasil todo que teve condições de fazer uma semente de qualidade em 2019”, ressalta Tomazelli.
Para o analista da Embrapa a recomendação técnica é comprar de sementeiro idôneo, com uma certificação de sementes, provando que foi fiscalizada e ter um aval do obtentor, onde o RT é o responsável da área e fez vistoria na lavoura.
“É desse sementeiro que se deve comprar. Isso garante que a semente terá uma genética boa, com alto vigor. Não aquela que germina, mas se entrar qualquer adversidade climática eu perco o estande. E quando falo de perder estande, me refiro a um prejuízo superior a 3 sacas de soja por hectare que está indo embora”, destaca Lemos.