Os desembolsos para produtores rurais por parte das cooperativas de crédito superaram R$ 34,5 bilhões na safra 2019/20 no Brasil, representaram 18,2% do total de financiamentos liberados ao setor, segundo dados do Banco Central, e continuam aquecidos nesta temporada 2020/21. Ao todo, o país conta com 413 cooperativas de crédito singulares, que atendem 49% dos municípios brasileiros, ainda conforme o BC. Mas essa capilaridade, já considerável, tende a aumentar com a ampliação de serviços digitais, que complementam operações físicas e têm potencial para viabilizar negócios mesmo onde esses grupos não estão presentes.

 

Guarda-chuva para 108 cooperativas de crédito, o banco cooperativo Sicredi tem hoje 1.963 agências no Brasil, distribuídas por 23 Estados e o Distrito Federal, e mantém uma carteira rural de R$ 31,4 bilhões – que representa 45% de sua carteira total. De seus 4,8 milhões de associados, 17% estão ligados ao agro, cuja carteira registrou alta de 26% no último ano.

 

Gustavo Freitas, diretor-executivo de crédito do Sicredi, espera que na safra 2020/21, que começou em julho, o banco desembolse R$ 23 bilhões para financiar atividades agropecuárias. De julho a outubro foram R$ 11 bilhões e, segundo Freitas, as contratações permanecem fortes em meio à pandemia, em parte, porque o grupo acelerou seus investimentos online. Este ano, foram R$ 700 milhões aportados na renovação do “core” bancário do Sicredi e em serviços como o atendimento via WhatsApp. Desde abril, as interações pelo app de mensagens do banco já atingiram a marca de 1,7 milhão. “Com a Lei do Agro, ganhamos segurança jurídica para assinar contratos eletronicamente, e o produtor que tem alguma garantia real já registrada passou a poder financiar a safra sem sair de casa”, diz o executivo.

 

Mas a estratégia do Sicredi não foi batizada como “Fisital” por acaso. Na visão do sistema cooperativo, as agências físicas devem continuar existindo e cabe ao digital simplificar operações cotidianas e fornecer serviços que aumentem o lucro e a produtividade no campo. Por meio do Programa Inovar Juntos, o Sicredi já foi ao mercado buscar soluções de startups para conectar produtores agrícolas familiares ao consumidor final e dar mais segurança no depósito de cheques. Em outra frente, em parceria com o centro de inovação AgTech Garage, de Piracicaba (SP), identificou agtechs que poderiam beneficiar seus clientes.

 

Uma delas, foi a Elysios, que com seu sistema de rastreabilidade atendeu produtores integrados de uva associados ao Sicredi na Serra Gaúcha. A Atomic Agro colaborou com tecnologias voltadas a produtores de grãos, e a Lei Gado, com pecuaristas de leite. “Entender o negócio do associado nos permite não só ajudá-lo a crescer, mas a entregar linhas de crédito melhores, com prazo compatível para compra de equipamentos e taxas que fazem sentido”, diz Freitas.

 

Na cooperativa singular Credicoamo, ligada à paranaense Coamo, maior cooperativa agrícola da América Latina, e presente em 40 municípios do Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul, a carteira total administrada é de R$ 3,5 bilhões, e em 2019 a liberação de crédito foi de R$ 1,82 bilhão. De janeiro a junho deste ano, o valor chegou a R$ 1,27 bilhão, alta de 0,7% na comparação com igual período de 2019.

 

Alcir José Goldoni, presidente executivo da Credicoamo, conta que o ritmo de crescimento da operação é bom, mas ainda precisa acelerar para atingir perto de 100% dos cooperados da Coamo. A cooperativa tem 29,1 mil associados, e a Credicoamo conta com 20,4 mil – 15 mil são produtores, e o restante são seus cônjuges. “A Coamo tem 65 entrepostos. Como temos 46 agências, nos próximos três anos cálculo que vamos abrir mais 20”, projeta Goldoni.

 

A Credicoamo investiu R$ 3,5 milhões neste ano em seus canais digitais. No aplicativo bankline, lançado em 2018, comemorou a marca de 70% dos cooperados ativos, sendo que a meta é chegar a 95% num futuro próximo. Goldoni afirma que o desafio maior é chegar aos produtores mais velhos, apesar de a pandemia ter auxiliado no seu convencimento. Com a escalada da operação digital, ele garante que os maiores investimentos foram feitos em segurança. “Tanto investimos no digital que fomos a quinta instituição habilitada pelo BC para operar com o Pix, que está sendo um sucesso”, conta.

 

Na cooperativa de crédito Cresol, os desembolsos para o crédito rural na safra 2020/21 prometem chegar a R$ 7,1 bilhão, incremento de 12,7% ante a última safra. E entre seus 550 mil agricultores associados, atendidos em 560 agências de 17 Estados, sobretudo na região Sul do país, a tendência agora é não somente o produtor contratar seus financiamentos pelo WhatsApp, mas recorrer, por esse canal, ao profissional que lhe presta assistência técnica para fechar uma transação. “Para o nosso público, que tem em média 45 anos e 12 anos de histórico com a Cresol, um bom relacionamento é baseado na conveniência”, afirma Luiz Ademar Panzer, diretor-executivo. Ele revela que 60% das transações da cooperativa já são feitas online, número que antes da pandemia era de 37%. “Temos aí um indício de que talvez possamos diminuir investimentos em grandes estruturas”.

Fonte: Valor