Clima coloca 2ª safra em risco, mas produtores preferem focar na soja
O atraso na chegada das chuvas em muitos estados, está deixando alguns produtores com uma decisão difícil nas mãos: plantar no pó ou esperar a chuvas? Claro que a escolha pode trazer consequências, como a perda de produtividade ou até replantio, no primeiro caso; e a perda da janela ideal para o plantio da segunda safra, para quem esperar as chuvas. O que fazer? Para responder essa pergunta, o Projeto Soja Brasil conversou com mais de 40 produtores de todas as regiões do país.
Antes de trazer algumas respostas, vale ressaltar que cada região possui um clima diferente e para alguns, de fato, ainda há chance de se plantar um pouco depois da janela ideal e garantir a safrinha. Entretanto, para outros, a cada dia de atraso, menor é a chance de a 2ª safra render bem.
Diante disso, a grande e esmagadora maioria dos produtores respondeu que não vale a pena arriscar a primeira safra plantando no pó.
O mais animador é que alguns sojicultores já perceberam que suas regiões não apresentam condições de se fazer uma segunda safra adequada, já que o plantio da primeira safra, feita com a soja, normalmente atrasa por falta de umidade.
O produtor Alessandro Oliveira, de Maringá (PR), já não semeia uma segunda safra há três anos e se diz satisfeito com o resultado.
“Agora o plantio da soja pode ser feita no momento certo, com a umidade correta. E a colheita é mais tranquila, sem loucura de plantar milho correndo, cuidar de percevejos e outras coisas. Antigamente eu conseguia fazer isso, até porque as duas culturas produziam bem, mas de uns anos pra cá, tive só prejuízo e decidi focar na soja”, diz Oliveira.
E se engana quem pensa que o caso de Oliveira é único. Vários produtores do Paraná, Goiás, Matopiba e até Mato Grosso disseram focar apenas na produção bem realizada da primeira safra. Isso por que, em suas regiões, o clima não favorece a divisão.
“Esse ano não estou animado para fazer safrinha não. Normalmente planto 50% da minha área na segunda safra, com sorgo, mas desta vez não sei se irei comprar os insumos para isso, não. Vou decidir mais pra frente”, diz o produtor Cleon Dias de Menezes, de Piracanjuba (GO).
Entre os que têm condições de semear a segunda safra, a maioria diz que não vai arriscar a plantar no pó e consideram uma mudança de estratégia para plantar após a retirada da soja.
O técnico agrícola Emanuel Logoski, trabalha em uma propriedade em La Paloma, no Paraguai, e disse que com o atraso nas chuvas trocará a cultura a ser semeada após a soja.
“Vamos esperar a chuva para garantir a safra de soja normal e talvez fazer uma safrinha de trigo e chia na sequência. Normalmente plantamos milho e trigo, mas se a situação das chuvas não melhorar trocaremos”, diz ele.
Em Santa Cruz da Conceição, interior de São Paulo, o produtor Romilson D’Ávila confirma que a safrinha é extremamente importante para a composição da renda, entretanto ele não arrisca em plantar no seco.
“Eu já comprei sementes de milho para cobrir pelo menos 30% da minha área. Isso não significa que plantarei a soja de qualquer jeito. Já o milho eu precisarei plantar. Tem ano que ganhamos bem, tem ano que empatamos e outros que temos um pequeno prejuízo, faz parte”, diz ele.
Outro produtor, de Campina da Lagoa (PR) que já comprou sementes para a 2ª safra, já pensa em devolver uma parte. Por lá, ele planta 180 hectares com soja na primeira safra e milho na segunda. Mas com o clima não favorecendo, isso deve mudar.
“Acredito que terei que reduzir pelo menos a metade do que ia plantar na segunda safra. Vou tentar cancelar as reservas que já fiz. Se não conseguir, vou tentar guardar para o próximo ano. Esse é o jeito”, diz Adilson Aparecido.
O que a Embrapa diz?
Segundo o pesquisador da Embrapa Soja, Alvadi Balbinot, de fato o produtor precisa avaliar como é o clima em sua região e, se ele favorece plantar a soja com a umidade certa, e depois semear a segunda safra na janela ideal.
“De fato, em regiões com estação chuvosa mais curta, uma opção é fazer uma safra de soja bem feita. Nessas regiões, o milho segunda safra tem risco muito alto. O custo do milho também é alto e não vale arriscar”, diz ele.
O pesquisador ressalta que cada propriedade tem suas particularidades, mas semeaduras tardias de milho segunda safra tendem a ser pouco produtivas.
“Há muitas situações em que o produtor, provavelmente, está tendo prejuízo com milho 2ª safra e não está ciente. Nesses casos, o melhor seria investir em culturas para cobertura do solo, visando melhoria do solo, redução de erosão e plantas daninhas”, afirma ele.
Por fim, Balbinot ainda destaca alguma opções para plantio subsequente a soja.
“Se for regiões mais frias do Paraná, por exemplo, pode se usar aveia preta, centeio, aveia branca e vários consórcios entre essas espécies, mais nabo forrageiro e ervilhacas. Se for regiões mais quentes, como Londrina, a opção são as braquiárias, como a ruziziensis. Em áreas quentes que têm problemas de nematoides uma opção é crotalária spectabilis”, ressalta.
Fonte: Canal Rural