Cigarrinha do milho: como minimizar os efeitos da praga nas lavouras?
Diante do avanço da cigarrinha do milho nas lavouras em Mato Grosso, o clima seco, o excesso de plantas voluntárias no campo e o aumento do cultivo de milho verão, são apontados como principais fatores para a proliferação e migração da praga no estado. Os agricultores cogitam a necessidade de uma regulamentação no cereal para tentar evitar a chamada ‘ponte verde’ da praga no campo.
O produtor Silvésio de Oliveira deu início à colheita dos 1.350 hectares de milho segunda safra, na propriedade localizada no município de Tapurah. A falta de chuva comprometeu o desenvolvimento da plantação semeada fora da janela, e a estimativa é de quebra de 30% na produtividade final. Outra preocupação do agricultor é a infestação da cigarrinha no campo. Oliveira conseguiu controlar o ataque no milharal, mas o problema foi conter a migração dos insetos, que causaram danos nos 150 hectares de pastagens da fazenda.
“A praga está se multiplicando em quantidade muito grande na pastagem, inclusive estamos pulverizando. Surgiu do milho no final do ciclo, e agora está se reproduzindo na pastagem, um dano mais lento em relação à cigarrinha da pastagem. A grande preocupação nem é tanto com a pastagem, mas sim com a próxima safra de milho, conta Oliveira.
O processo migratório da praga nas propriedades causa dúvidas e deixa os agricultores da região apreensivos.
“O assusta é a quantidade desse bicho no campo, em todos os lugares, na mata, na lavoura. Ele pode chegar inclusive na soja, porque a soja tem a flor, e o que a gente está observando aqui, é que esse bicho ataca a flor, porque na flor do milho tinha mais ataque no pendão, justamente onde tinha a flor”, relata o presidente do sindicato rural de Tapurah, Dirceu Luiz Dezem.
O pesquisador da Embrapa, Rafael Pitta, explica que essa espécie de cigarrinha só consegue se reproduzir no milho. Mesmo assim, a infestação da praga no campo este ano aumenta a chance de disseminação de doenças e requer atenção redobrada no manejo de plantas hospedeiras.
“Por ser uma espécie que tem um hábito alimentar mais restrito ela é menos complexa para manejar, então se a gente tiver um período mais restrito da presença do hospedeiro, naturalmente a presença dela vai declinar e quando tivermos a próxima safra essa população será ainda menor”, diz Pitta.
Ainda segundo o pesquisador, outros fatores podem contribuir para o controle manual da cigarrinha nos milharais.
“O produtor deve começar a monitorar desde quando a planta começou a emergir, acompanhando quando começa a chegar a presença do inseto. A recomendação é que controle seja feito com produtos mais seletivos. É preciso cuidado para fazer a rotação de produtos químicos, para evitar problemas de resistência. Outro ponto importante é o produtor procurar trabalhar com materiais que tenham certa tolerância aos molicutes, isso ajuda muito, porque como estamos falando de um inseto vetor, nós não precisamos ter muitos deles no campo para disseminar a doença”, pontua.
Na avaliação da entomologista Lúcia Vivan, da Fundação MT, para reduzir o impacto da cigarrinha, o ideal é um período de entressafra sem plantas de milho.
“Quanto maior a oferta de plantio de milho durante o ano, vamos ter como consequência um aumento na população de cigarrinha. Nas plantas tiguera do milho, a cigarrinha consegue se reproduzir, aumentando a população e também mantendo a porcentagem de plantas infectadas com enfezamento, por isso a recomendação é que não se tenha plantio sucessivos dessa cultura, pois a cigarrinha irá se deslocar através desses plantios”, diz Lúcia.
Regulamentação contra a cigarrinha do milho
No campo, uma possível regulamentação para tentar evitar a chamada ponte verde que permite a proliferação da praga e da doença também é cogitada.
“Em trinta dias, a praga gera uma população, só que você planta o milho em novembro, dezembro. Em janeiro e fevereiro é o nosso plantio e a nossa janela de milho safrinha, o milho safra plantado em dezembro já vai ter duas gerações de cigarrinhas, isso é exponencial. O milho safrinha já vem com uma carga muito alta de cigarrinhas, isso faz com a gente reveja alguns posicionamentos, porque se essa mesma pressão da praga continuar aumentando, o milho safrinha está em cheque”, afirma o agrônomo Cledson Guimarães Dias Pereira.
No entanto, para criar uma legislação sobre o tema, os passos são complicados, como afirma o vice-presidente da Aprosoja-MT, Lucas Costa Beber.
“Não é uma discussão simples tem que reunir toda a cadeia produtiva, seja os consumidores desse milho, seja quem produz a semente, seja principalmente os pesquisadores, que estudam essa praga há muitos anos, que ainda paira muitas perguntas sobre ela. Precisa de muito estudo para ser reconhecida, para que justamente a gente possa chegar em um acordo que cause menos efeitos colaterais para toda a cadeia produtiva de milho”, diz o dirigente.
“O que nós precisamos ter uma ação em conjunto entre todos os entes envolvidos neste processo para tentar mitigar este problema”, reforça Emerson Zancaro, presidente do sindicato rural de Nova Mutum.
O presidente do sindicato rural de Tapurah diz que o problema deve ser resolvido o quanto antes, para evitar maiores perdas na safra de milho do estado.
“Não podemos perder essa safrinha. É a redenção dos produtores. O médio produtor não planta algodão, e sim milho. Não podemos perder a safrinha pela justificativa de continuar fazendo a safra. Tem que haver a quebra dessa transição desse bicho”, finaliza.
Fonte: Canal Rural