Chuva atrasa colheita, estraga soja e transforma rodovia estadual em manguezal
Produtores de Mato Grosso já contabilizam perdas de até 5 sacas por hectare e reclamam de Fethab pago. Caminhões atolados há dias, também fazem soja perder qualidade!
Em Paranatinga, região leste de Mato Grosso, o excesso de chuvas atrapalha a colheita da soja e causa prejuízo de até quatro sacas por hectare em algumas fazendas. Outra preocupação é com o escoamento da safra, que está comprometido principalmente nas estradas de terra. Indignados, os agricultores cobram do governo um retorno sobre o Fethab.
Segundo o Sindicato Rural do município apenas 30% dos 270 mil hectares cultivados nesta safra foram retirados do campo.
Na fazenda de Bruno Aimi, as chuvas não deram trégua. Desde que a soja ficou pronta para colher, a região acumulou 15 dias seguidos com instabilidades, acumulando mais de 700 mm. Não bastasse ter parte da lavoura alagada e as colheitadeiras paradas, do lado de fora, uma fila de caminhões já contratados para carregar a soja para os armazéns se formou e por lá deve ficar até o solo secar e os trabalhos começarem.
“Não consegui tirar nada. Tenho 400 hectares já prontos. A chuva que atrasou no começo veio toda agora e com altos volumes. Acredito que aqui já vamos ter perdas de 5% a 10% de grãos ardidos, fora a perda por umidade que vai diminuindo o peso”, conta Aimi.
A situação de Aimi não é uma exceção, varias fazendas da região passam pelo mesmo problema. Bem próximo dali outro produtor tem 1,5 mil hectares prontos, mas só metade foi retirado até agora. O resultado será a perda de qualidade e de dinheiro.
“Esse está chovendo muito e, em um espaço de tempo muito curto. Já temos até soja querendo brotar no pé, dessecadas há semanas. Se não abrir o tempo nos próximos dois dias, começaremos a ter perdas sérias”, diz o produtor Danilo Julio Antonowiski.
Perdas já acontecem
Após colher 10% da área de 1.200 hectares, o produtor Robson Weber contabiliza perdas de 4 a 5 sacas por hectare de grão ardido. Ele diz que a rentabilidade está ameaçada e torce por uma estiagem para conseguir colher o restante da safra logo e tentar diminuir o prejuízo.
“Teve carga com 13% de ardido. É muito e, não tem o que fazer. As amostras feitas mostraram isso. Nesses últimos 15 dias, acredito que já acumulou mais de 400 milímetros de chuva. Não tivemos um dia com sol. Isso vai gerando menos renda”, afirma Weber.
Problemas no transporte
O excesso de chuvas causa apreensão fora da porteira. Na Rodovia MT-130, principal rota para o escoamento da safra da maior parte da produção de Paranatinga, o cenário é desolador. Muitos buracos, lama e deformações que transformam a estrada de terra em um verdadeiro mangue.
Em vários trechos da estrada a situação é a mesma, caminhões quebrados ou atolados há dias, colocando em risco os motoristas e suas cargas de soja e adubo.
“Com a ajuda do pessoal conseguimos almoçar e jantar. Com a água da chuva conseguimos encher garrafas para beber, porque nem isso nós temos. Estou carregado de soja, o pessoal já até ligou perguntando se teria jeito de chegar o mais rápido possível, mas não tem como. Carreguei o grão na sexta-feira e ele já está ardendo ai em cima. Na hora de descarregar dá quebra, aí reclamam do motorista. Estou com molas e balança quebradas, pneu deslocado. Estou só no prejuízo, não tem como”, diz o caminhoneiro Moacir Junges.
Para o produtor Aimi, é um absurdo ser cobrado todos os anos a pagar um imposto para melhorar as rodovias e nada ser feito, trazendo prejuízos para a agricultura e para a logística do estado.
“É uma coisa fora do comum. Todo o ano é a mesma história, a mesma buraqueira, caminhão tombado, etc. Não sei o que o governo do estado faz com o Fethab que pagamos e, que aumentou recentemente? Nada, né. A gente fica a Deus dará. Falaram em asfalto e fizeram 5 km em dois anos e, pararam. Agora precisa pagar o dobro para os motoristas, porque eles não querem vir em uma estrada assim”, afirma Aimi.
O motorista José Aristides da Silva confirma isso, relatando ainda que no caso de acontecer algum problema o motorista fica isolado e sem qualquer ajuda.
“Continuar a viagem é perigoso, pois escorrega demais. Se atolar não sai mais, a menos que alguém tenha boa vontade de vir puxar a gente com o trator. Caso contrário, fica aqui e dorme no caminhão esperando o tempo secar. Enquanto isso a soja estraga em cima do graneleiro”, diz Silva.
Para o diretor do Sindicato Rural de Paranatinga, Thomas Paschoal Alves, as obras são essenciais para que a região possa escoar a safra.
“Precisamos urgentemente de asfalto nesta estrada, o fluxo de caminhões é grande nessa época. É uma obra que já dura 40 anos e não sai do papel. Mato Grosso precisa dessa rodovia, pois é um eixo estruturante, até parte da safra de Gaúcha do Norte passa por ali”, ressalta.
Fonte: Canal Rural