O agronegócio é o setor mais dinâmico da economia brasileira e em 2020, mesmo com a pandemia de Covid-19, conseguiu escapar ileso de toda a crise que assola o planeta. Em meus 25 anos de agronegócio, nunca presenciei tantas transformações que sofremos, o uso forçado de ferramentas digitais para aumentar as vendas de bens de consumo, saúde, educação e tantos outros serviços por meio de dispositivos móveis, afetou não só a nossa vida pessoal mas também mudou toda a nossa vida profissional.

 

No agronegócio brasileiro, não paramos, com a maioria das cidades fechadas, o agricultor seguiu em frente nesse quase um ano de pandemia. Com isso, surgiram várias oportunidades de novos negócios, vários empreendedores surgiram e novas soluções foram criadas. Neste ambiente dinâmico e de alta intensidade, foi o palco ideal para a criação de várias startups.

 

As startups com foco no agronegócio, também chamadas de Agtechs, estão se tornando cada vez mais numerosas, pesquisas recentes mostram que em um universo de 12.000 startups no Brasil são quase 1100 focadas no agronegócio, refletindo o grande peso do Agronegócio na economia brasileira. Nos últimos anos, melhorar a infraestrutura no Brasil, como conectividade, penetração móvel, imagens de satélite, alfabetização digital, tem sido fundamental para o desenvolvimento desse ecossistema Agtech.

 

Queria neste artigo e com base nas minhas experiências como profissional que atuava na área de produção de bens, na distribuição de insumos, e nos finais de semana como agricultor, destacar 13 startups que na minha opinião trazem algo diferente e muito claro foco em uma solução clara para a cadeia. Eles são startups para ficar de olho em:

 

Atomic Agro:

A Atomic é uma empresa de Uberlândia / MG, que começou com o objetivo de criar uma estrutura de banco de dados, que, por meio de entrevistas, visava catalisar informações como tamanho da propriedade, variedades plantadas, custo de produção, desempenho de colheita, preço dos insumos e muito mais. . Atualmente, eles têm um banco de dados de mais de 35.000 agricultores, 10.000 dos quais interagem com o aplicativo semanalmente. Este App oferece gratuitamente ao agricultor: Informações sobre as cultivares mais plantadas na região em que está inserido, desempenho de plantio e cultivo, rede social e cotação de produtos. Com este grande potencial de clientes, vejo a Atomic como uma plataforma ideal para pequenos e médios agricultores (até 4000 hectares) que desejam comparar seu desempenho produtivo e financeiro com agricultores do mesmo porte e no mesmo local, e também como um forma fácil e ágil de obtenção de crédito para produção, pois a interação com a plataforma agilizará o contato com os credores. (www.atomicagro.com)

 

Agristamp:

 

Sediada em São Paulo / SP, a Agristamp é uma plataforma simples e rápida para contratação de seguros agrícolas. O mercado de seguros agrícolas no Brasil era, em um passado não muito distante, burocrático e muito caro. Entendendo essas necessidades dos agricultores, a Agristamp criou uma plataforma com produtos de seguros que são simples, acessíveis e eficazes na redução dos riscos climáticos. A tecnologia em associação com múltiplas Seguradoras permite distribuir seguros de forma eficiente, maximiza os benefícios para toda a cadeia e garante uma apólice de até 72 horas. (www.agristamp.com.br).

 

Bart Digital:

 

A Bart digital tem sede em Londrina / PR e foi criada para solucionar problemas nos processos de financiamento, todos nós sabemos o quanto o Brasil é burocrático, e a solução da Bart principalmente nas questões de recebíveis e garantias trouxe confiabilidade e agilidade ao sistema. Entre as principais conquistas da Bart Digital, destaco a criação da primeira CPR digital que economizou tempo e dinheiro para o agricultor, o distribuidor e as empresas que trabalham com esse ativo como forma de garantir o negócio. Na minha experiência, o uso dessa ferramenta reduziu o tempo necessário para formalizar essas garantias em 75%. (www.bartdigital.com.br)

 

Digifarmz:

 

DigiFarmz é uma plataforma digital criada por um dos maiores fitopatologistas do Brasil, Ricardo Balardin, que já usou mais de 18 fatores bióticos e abióticos para apoiar o agricultor na tomada de decisões. Por meio de dados de pesquisas, informações climatológicas, genética de cultivares, datas de semeadura, localização e outros parâmetros, esta ferramenta apresenta recomendações inteligentes que auxiliam produtores, agrônomos e consultores no manejo fitossanitário de doenças da soja. A plataforma informa sobre o que usar (fungicidas, misturas, etc.), quando (data ideal de cada pulverização), quanto (número de pulverizações a serem realizadas) e sobre o manejo da anti-resistência. E a base de dados (crowdsourcing + pesquisa de campo), em constante expansão, também permite otimizar recursos e investimentos na agropecuária, ajudando a reduzir o impacto no meio ambiente. (www.digifarmz.com)

 

Flex Interativa:

 

O Flex interativo está localizado em SP e tem como proposta um grande apelo para o agronegócio: “Idéias que podem ser tocadas”.

 

Você já pensou na possibilidade de objetos reais interagirem com objetos virtuais? Aprendemos agronomia de uma forma que torna difícil imaginar como os produtos interagiam dentro da planta, como os diferentes produtos e modos de ação agiam, ou mesmo como as plantas faziam o metabolismo. Essas tecnologias nos ajudarão a entender melhor esses fatores e formar melhor os técnicos e agricultores, além de podermos ser muito mais ágeis, flexíveis e eficientes nos dias de campo, treinamento e treinamento.

 

Na minha opinião, essas tecnologias serão utilizadas inicialmente pelos fabricantes, mas também podem ser utilizadas pelos agricultores, que visitaram a vinícola Jolimont (www.tourduvin.tur.br) em Canela / RS, podem ver o que a realidade virtual pode fazer para encantar os consumidores. . (www.flexinterativa.com.br)

 

Go-Flux:

 

A maior dificuldade da logística hoje, apesar da dependência de rodovias, distância das rotas, infraestrutura deficiente e processos antigos e inadequados, é que os custos são muito elevados em todo o processo de trabalho.

 

Dos insumos agrícolas importados aos valores gastos com manutenção de veículos, os Agricultores e Agroempresas enfrentam desafios e dificuldades para reduzir custos. A Go Flux, a única Logtech em minha lista, é uma startup fundada em 2018 e eleita uma das 100 melhores startups do Brasil, nasceu dessa inconformidade de fazer as coisas sempre da mesma forma. Por que o frete é contratado da mesma forma há anos? Por que a revolução digital ainda não mudou a forma dessas operações? Por que ainda não temos soluções inovadoras neste tema?

 

Go Flux busca dar mais transparência, agilidade e maior eficiência através de uma plataforma que permite a realização de BIDs, com um Market Place fechado, incluindo os parâmetros adequados ao seu negócio, dados de sua demanda e indicação do preço a pagar. o percurso. Com o envolvimento de diversos fornecedores em orçamentos dinâmicos 100% online, é possível visualizar os lances em tempo real. Os principais benefícios são Inteligência e compliance das operações, Redução de custos e ganho de competitividade. Na minha empresa anterior, por exemplo, tivemos uma redução de 8% para todo o nosso custo logístico. (www.goflux.com.br)

 

Grão Direto:

 

A Grão Direto foi criada em Uberaba e ganhou notoriedade por ser a única startup brasileira a ser convidada para o BlackBox Connect, programa de imersão no Vale do Silício. Além disso, também foi convocado para o programa de aceleração Scale-Up (Algar + Endeavor). Seu objetivo é conectar agricultores, compradores, corretores e armazéns tornando a compra e venda de milho, soja, sorgo e outros grãos mais moderna e segura.

 

Todos têm acesso às melhores informações para negociar e quanto mais informados estiverem, maiores serão suas chances de fazer os melhores negócios. Por meio da tecnologia, vendedores e compradores podem negociar grãos com muito mais rapidez e eficiência, tanto para negociações no mercado disponível, como a termo ou permuta.

 

O Grão Direto foi criado para dar suporte a todos os perfis da rede: cooperativas, tradings, revendedores, corretores tradicionais, rações, acionistas, comerciantes e muito mais, gerando ganhos em inteligência de mercado para produtores e compradores tomarem as melhores decisões e com mais agilidade em processos associados à comercialização (logística, gestão de contratos, produtos financeiros e muito mais). (www.graodireto.com.br)

 

INOVAFARM:

 

É uma AgriTech fundada em 2019 na cidade de Alfenas / MG, que desenvolve tecnologias para revolucionar o agronegócio, facilitando a vida das pessoas do campo. Ele fornece ao agricultor (Cattleman) ferramentas para tomar decisões de forma rápida, fácil, precisa e eficiente. Um dos produtos que mais se destaca na minha opinião e que utiliza a tecnologia da internet das coisas são os colares para gado, as balanças inteligentes, e os sensores de comportamento e reprodução, onde o agricultor tem acesso em tempo real e de qualquer local para todo o seu time e pode melhorar os recursos, evitando perda de tempo e recursos. (www.inovafarm.com.br)

 

Safetrace:

 

Uma das maiores lições aprendidas com essa crise é que consumidores e países importadores farão cada vez mais o uso de barreiras fitossanitárias para regular os mercados e suas respectivas deficiências internas e balança comercial.

 

Com base nisso, para o agricultor brasileiro, não basta produzir bem, teremos que provar que produzimos bem e de forma sustentável. A Safe Trace é uma empresa de Itajubá / MG, especializada na rastreabilidade da cadeia produtiva de alimentos, integrando informações de todos os elos, do produtor ao prato do consumidor. Ao adquirir produtos com o selo Safe Trace, você saberá de onde vêm os alimentos consumidos; além de certificar-se de que o produtor está agindo de acordo com as normas socioambientais e sanitárias, por meio de um rígido monitoramento.

 

Outra tecnologia desenvolvida pela safetrace e que promete resultados superiores é a solução block chain, que pode ser utilizada em toda a cadeia produtiva, incluindo produção de matéria-prima, industrialização e comercialização. Essa tecnologia será capaz de registrar, armazenar, organizar, rastrear e disponibilizar as informações coletadas ao longo da cadeia, desde a implantação em campo até as etapas finais da produção. (www.safetrace.com.br)

 

Seedz:

 

A Seedz tem sede em Belo Horizonte (MG), fundada em 2017, e desenvolveu um software de fidelização que valoriza o relacionamento entre produtores e pecuaristas com empresas do agronegócio e também de outros setores, empresa que tem a inovação como principal ativo. A solução é muito simples na hora de comprar produtos de empresas parceiras, um seedz acumula uma moeda virtual, que pode ser trocada na plataforma por produtos e até cursos, incentivando assim esses produtores a reinvestirem em suas fazendas, criando assim um novo modelo de compra e venda com foco na confiança e transparência.

 

O ponto positivo é que se trata de uma plataforma multimarcas, permitindo maior otimização, diversificação e customização de programas, incluindo fácil adaptação a um mercado proprietário. Outro atrativo que a Seedz oferece, é que sua plataforma de incentivos por meio de gamificação e customização pode ser facilmente implementada e com melhor custo-benefício.

 

Tudo isso de uma forma comum, que é o Seedz, tornando o ambiente de negócios mais transparente e acessível a todos. A plataforma já é utilizada por mais de 60 mil produtores cadastrados de todo o Brasil e também 5.000 profissionais do setor. Além disso, já são 300 empresas cadastradas em diversos segmentos do agronegócio como sementes, defensivos agrícolas, fertilizantes, serviços financeiros, saúde e nutrição animal, máquinas, equipamentos, logística, entre outras soluções. Destaque para multinacionais como UPL, Yara, John Deere, Agro Galaxy, Helm, Agro100, Agro Ferrari e cooperativas como Cocamar. (www.seedz.ag)

 

Solubio:

 

O mercado de defensivos agrícolas no Brasil gira em torno de US $ 12 bilhões, cresce cerca de 2 a 4% ao ano e vem sofrendo várias restrições nos últimos anos. Como resultado, o aumento da demanda por produtos mais sustentáveis ​​e alternativas aos produtos químicos na agricultura impulsiona o mercado de pesticidas biológicos, não só no Brasil, mas no mundo.

 

Levantamento da consultoria Spark Inteligência Estrategica divulgado em outubro mostrou que o mercado brasileiro movimentou quase US $ 200 milhões na safra 2019/20, 46% a mais que na safra anterior. Nesse sentido, a área potencialmente tratada com biológicos aumentou 23%, para 19,4 milhões de hectares.

 

Com esse mercado em crescimento, uma tecnologia que me parece promissora é aquela que permite ao agricultor produzir agrotóxicos biológicos em sua fazenda, reduzindo os custos com esses insumos em soja, milho, trigo, algodão, cana-de-açúcar, café etc. a 40%. Com a tecnologia da Solubio, startup fundada em Gurupi / TO, as “biofábricas”, que são equipamentos automatizados para multiplicação de bactérias, podem ser customizadas de acordo com a necessidade do cliente. Atualmente, a empresa atende 100 grandes produtores em uma área de 1 milhão de hectares e com 150 biofábricas instaladas. (www.solubio.agr.br)

 

Terra Magna

 

A Terra Magna é uma empresa de Big Data geoespacial de São José dos Campos / SP, com foco no setor agrícola e florestal, que utiliza imagens de satélite para medir, prever e controlar ativos biológicos, gerando insights para a cadeia do agronegócio.

 

A empresa aprimora as operações de campo por meio do monitoramento de infestações de plantas daninhas nas áreas plantadas e da gestão de riscos para financiadores do agronegócio. Ao combinar computação em nuvem e imagens de satélite com a indústria de sensoriamento remoto, Terra Magna permite que agricultores e outros participantes entendam melhor suas terras, seus negócios e todo o mercado, por meio de mapas com o status das terras cultivadas.

 

A proposta é dar mais segurança a bancos, cooperativas e agroindústrias nas operações financeiras e na gestão de empréstimos colaterais do agronegócio. É essencial no meio ambiente do agronegócio no Brasil.

 

A solução também atende ao Agricultor / Produtor, que pode utilizar os dados para acessar menores taxas de juros. 22.000 fazendas são monitoradas semanalmente. (www.terramagna.com.br).

 

TrAIve

 

Traive é outra AGfinTech que irá “prosperar” devido ao tamanho do mercado e à constante necessidade de capital por parte dos agricultores. Fundada em 2018, a empresa facilita empréstimos para o setor agrícola, oferecendo a agricultores e credores soluções financeiras inovadoras e acesso exclusivo a empréstimos de mercado. Recebeu recentemente um aporte de R $ 14 Mio da SP Ventures que será usado para aumentar o time e investir em tecnologia. Hoje, duas cooperativas e sete revendedores usarão a solução da Traive e a expectativa para 2021 é aumentar em mais de 30.

 

Com escritórios em São Paulo, Minneapolis e Boston. A Traive também vem preencher uma lacuna importante no setor. Lembrando que quanto mais crédito, maiores serão os investimentos em tecnologia, insumos agrícolas e produtividade do agricultor. (www. traivefinance.com)

 

Vale lembrar que 2020 foi o ano com o maior número de fusões e aquisições de startups brasileiras ao todo, mais de 100 fusões e aquisições de startups foram realizadas nos últimos nove meses, mas nenhum dos grandes investimentos foi no segmento de agronegócio.

 

Os investimentos foram em setores que se beneficiaram com os novos hábitos de consumo, sejam eles financeiros: (US $ 300 milhões para a fintech Neon e R $ 1,3 bilhão para o Banco C6), de varejo eletrônico, (US $ 225 milhões para a plataforma de e-commerce VTEX) e jogos, como o unicórnio (Wildlife, com aporte de US $ 120 milhões). Para se ter uma ideia de valores, a maior contribuição para uma Agtech na América Latina foi a da brasileira Solifintech, que no início de 2020 arrecadou US $ 60 milhões e quase ultrapassou o total do ano passado em contribuição para a categoria, semanas seguidas depois para a Argentina Agrofy, que recebeu US $ 23 milhões para o seu marketplace.

 

Em um mercado enorme e burocrático como o do agronegócio brasileiro, a inovação nas grandes empresas é um processo caro e demorado.

 

Deixo aqui minha sugestão de empresas que tenham todo potencial de crescimento e aceitação por parte dos players do agronegócio e que possam ter o mesmo sucesso que Adtechs e Fintechs.

Fonte: AgroPages